20100712

Vila Nova de Gaia, Portugal O polegar e o indicador tamborilam, impacientes. Aguardam ordens. O ritmo é caribenho; a fome é negra. Sem cerimónia, entram juntos no estreito pacote metalizado. Assim como entram, logo param, assustados. À sua volta, as paredes quebradas espelham milhares de dedos disformes numa agressiva posição de tenaz. Não fosse a gordura que as embacia, tinham perdido o tino e ganho tonturas. Resolvem fechar os olhos e ir mais fundo, à cata da última batata. Mas esta é fina e mete-se no canto do pacote. Os dedos, de tanto foçar, espetam migalhas duras debaixo das unhas. Feridos e sebentos, recuam amuados, deixando um rasto de sangue gordo. O pacote é abandonado no entulho. Dois dias depois, a batata assume que é seguro sair. Mal põe o pé de fora é devorada por um Diabo da Tasmânia que ali montava cerco desde que tinha sentido o odor do tubérculo. Em alturas de escassez estes mamíferos marsupiais podem também comer insectos, cobras e frutos.

1 comentário:

Diana Correia disse...

Porto, Vila Nova de Gaia... gosto destas paragens. :)