20110426

Amman, Jordânia Atrás de um homem enorme caminhava, a custo, uma mulher sacrificada. Pareciam estranhos, um com o outro e, no entanto, todos os conheciam como casal. Mudos, cruzaram o cotovelo da viela e deram lugar a um herói de resistência - a viver há 98 anos – super ocupado a manter pelas costas a capa onde esvoaçavam duas mangas inúteis. Convém esclarecer que estas duas espanavam como doidas, não pela velocidade do passo do senhor, que ia praticamente parado, deixando-se levar na procissão lenta e glaciar dos paralelos da calçada, mas sim pela nortada, que aqui cai com o entardecer. De um ponto de vista elevado, o homem pareceu sumir-se para debaixo da terra, de onde logo saíram – que bela alegoria, dirão alguns – duas crianças da rua a afagar um gato caramelo. Com este excesso de atenção ao detalhe, quase perdíamos a passagem de uma criatura volumosa que envergava a mesma bata com que trabalhava para uma senhora. Abraçava uma chusma de vestidos, pela cintura, sem saber qual usar, numa ocasião especial. Aos poucos a ruela aquietou-se e, tirando um par aos beijos que agora-se-via-agora-não, a viela entroncada em cotovelo espreguiçou-se, parecendo, por momentos, uma rua direita. Um a um, Deus acendeu os lampiões da rua. Deus tem a vista cansada e a luz põe-lhe tudo a nu, como era dantes.

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