20120710



Como hei-de explicar que não se entra, assim, no Cercal?
Que é um processo de namoro, misto de engodo e cheiro bom?
Quem se achega, vem a evitar a esteva peganhenta e os seus olhos já viram montado de sobra (serpentear por estas árvores despidas da cintura para baixo, deixa marcas tão fortes que bem se pode estar uma década sem conseguir fazê-lo de novo).
É então que nos lançam as sebes. A buganvília e o jasminóide iscam-nos pelas narinas e sentimo-nos num caminho a sério. Há uma certa ordem a alinhar o desgovernado.
Ficamos preparados para o que vem a seguir. O casebre já não assusta e os terraços de rafeiros apresentam-se bem presos. Confiantes, aproximamo-nos do arbusto aparado com a curiosidade de um pardal; arrancamos uma folhita, para cheirar, e seguimos por um estradão de levadas.
Quando o casario afunila e se inclina para nos ver melhor, sente-se um certo desconforto, mas os azuis, os vermelhos e os amarelos que bordejam os brancos, distraem e impedem que se veja o tapete de alcatrão por onde já caminhamos. E depois há sempre o sorriso tranquilizante de uma velhinha, ignorando nós que aquelas agulhas que tricotam, também mexem as poções que borbulham no quarto dos fundos.
Quando se dá por ela, já estamos na rotunda; bem no meio do Cercal.
Aí só nos resta baixar a cabeça e circular pela direita, resmungando uns monossílabos guturais aos outros que, de lá, também nunca mais saíram.

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