20121027

Barcelona, Espanha

Não me lembro de nada. O que é o mesmo que dizer que tudo me passa pela cabeça.
Às coisas passadas e às pensadas, encaro-as e esgadanho-as na esperança de encontrar uma ou outra entranhada nas unhas. Mas todas me escapam e eu fico a fazer a figura que vejo que faço, e que não é a minha. (Quem é essa, que se insinua?)
Apoio-me numa bengala de risos e vou tocando na vida à minha frente. Pelo caminho não falo com ninguém, mas já não me posso ouvir. Nuns quantos vazios à minha volta construo maciços com as palavras que ainda guardo, as mais fortes, onde depois pouso o que me diz mais. Pelas paredes espalho as mais novas; atrás das portas e ao abrir das gavetas. Assim falam comigo, quando menos conto.
A ausência minha causa-me dor; a minha ausência inflige-a.
Tudo passa.

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