20121231

Leixões, Matosinhos, Portugal

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Alargamos entradas com tal mestria que até o vizinho de trás das portadas vai ranger “Que boas entradas!”. Cortamos todos os tipos de mal pela raiz, replantamos a raiz do mal em local a indicar pelo cliente, e também disponibilizamos um serviço 24 horas de vigilância de infestantes. Com o passar dos anos tornamo-nos especialistas em contagens decrescentes estando agora muito mais perto de atingir o fim a que nos propusemos. Oferecemos um serviço inovador de remoção de pernas esquerdas (muito requisitado por ambidextros), utilíssimo para dissipar dúvidas de última hora na subida a cadeiras e garante do cumprimento cabal nos mais variados misticismos. Temos carta profissional em todo o tipo de artifício, fogo de vista e material gasificado. Trabalhamos essencialmente o gregoriano, mas dispomos de excelentes fantasias romanas e julianas para grupos pequenos. Recolhemos e destruímos os anos terminados. Sigilo absoluto.

20121220

Câmara de Lobos, Madeira, Portugal

Satisfeito, Presépio contemplou o pinheiral de bacalhaus em toda a sua manjedoura. Gotículas de magos consoavam por entre as festas e os sapatinhos brotavam dos coros, como era suposto. Tudo estava natal e repicado.
“Nada como uma seca abundante”, pensou.
Ponta do Sol, Madeira, Portugal

Um campo lavrado de amarelo. Sulcos curvos de uma regularidade individual ondulam em fuga para o horizonte fechado. De momento, só brotam cabecinhas; todas desiguais, fruto da mão de um semeador disléxico. Bons arados passam pelo meio dos regos afagando os montículos. Isto faz crescer a cultura pelo rodar dos pescoços. É impensável dispensar um bom arado. Há rebentos que, pelo rigor, ostentam ‘cloches’. Outros há que polinizam em redor, soltando cabelos. Os mais débeis atrofiam no solo profundo, soltando guinchos cada vez mais mortiços. São estes que, filtrados pela turfa, nos chegam como lamentos de sarna.
Eis que a estufa cristalina cai, com um estrondo. Os rancos que saltam, maturam logo, mal perdem o toque da terra. Esbracejam os membros que esgalharam em tal instante, recolhendo pertences que os tornarão autónomos, na safra.
Na fase seguinte falaremos da fileira de processamento.