20140723

Pamukkale, Turquia

Entre as coisas boas há um espaço. Uma estrada, com campos iguais dos dois lados. Terra arada, trigo seco e postes. Um som monocórdico de coisas repetidas passa continuamente pela janela de cada um, trazendo imagens de monotonia e cansaço. De vez em quando um camião caído na berma, um aceno fugaz ou uma coluna de fumo negro, soltam exclamações que logo ficam para trás.
A estrada parece não acabar nunca. A memória da última coisa boa começa a esfarelar e deixa um rasto de migalhas secas a que os corvos chamam um figo. Em vão se tenta encontrar o caminho de volta a essa coisa que sonhamos ter sido boa.
A espera que se vai amontoando faz doer os músculos e o corpo torna-se um lugar desconfortável. Anseia-se pela próxima coisa boa com tal intensidade que não se dá conta do tempo que se está a desperdiçar. Vive-se, entre uma lembrança fosca e um desespero de futuro, um tempo de envelhecimento. Vive-se assim até ao momento em que a próxima coisa boa não chega. E a espera acaba. E o corpo deixa de doer.

2 comentários:

Anónimo disse...

Genial!

Delfim Loureiro disse...

Algumas viagens são assim, nunca chegam ao termo e, quando chegam estamos a necessitar de férias... razões várias...

A vida, por vezes, foi sendo sempre adiada, à espera do outro dia, do amanhã que nunca acontece...lamentável erro e desperdício!!