20160903

Arouca, Portugal

É no cimo das árvores, nos ramos mais altos, que se sente o mover da terra; que se antecipa o curvar do horizonte. Quem do solo olha para cima, para as copas majestosas, assombra-se ante o vagar com que se movem. Como gigantes que são, desprezam o tempo miudinho. Encaram-nos sem gravidade. E os homens lá trepam às árvores para colher esse tempo. Apressados, fazem-no quando ainda não estão maduros; e quando ficam, deixam de crer.
O tolo que trepa ao cesto da gávea, sente-se como um barão. As ramagens lentas fustigam o madeiro deixando na língua uma poalha de esporos. Da boca aberta rebentam coisas novas. Gota a gota as fontes suadas regam as raízes que o sustentam levando-o mais alto. A certa altura, o chão deixa de fazer sentido e torna-se subterrâneo. A fusão das copas define a linha de terra e respira-se daí para cima, com o céu mais achegado.

1 comentário:

Delfim Loureiro disse...

Esse teu olhar, paira lá do alto e faz rejeitar muitas minudências e "rasteirinhos".!!

Obrigado.